terça-feira, 16 de junho de 2009

AS VIVANDEIRAS



O universo feminino sempre foi tratado de forma polêmica pelos pesquisadores. O movimento feminista na década de 60 do século XX contribuiu para o enfoque da História da Mulheres. A partir daí, a construção da oposição masculino versus feminino levaria o uso do termo "gênero" para a teoria da diferença sexual. 
Teorias a parte, este universo feminino esteve muito bem representado pelas Vivandeiras, principalmente no século XIX no Brasil. Essas mulheres estiveram representando sua força até na Coluna Prestes. Muito comum na região sul do país, ajudaram a formar as fronteiras do Brasil. Mas o assunto será delimitado no rastro das tropas do Império do Brasil na Guerra do Paraguai.
As Vivandeiras eram comerciantes, amantes profissionais, enfermeiras, domésticas dos soldados e muitas vezes pegaram em armas para defenderam seus interesses, ou seja, filhos e seus amantes. Elas brigaram pelo seu espaço e pela sua sobrevivência e formaram com muita relevância a formação estrutural da família em certas regiões do Brasil. 
Eram também vistas como comerciantes de víveres e despojos de finail de batalha que muitas aproveitavam para recolher. Do ponto de vista para a sociedade do século XIX, as mulheres eram más, inferiores, com apenas importância para os afazeres domésticos e criação dos filhos. Mas para as Vivandeiras essa desvalorização não interferiu como um todo no seu universo feminino. Independentes, corajosas, determinadas em seus objetivos, contribuiram para aquele momento insano da guerra. Viconde de Taunay relata em seu diário na Retirada da Laguna: "(...) o saque desenfreado a que se entregavam os mascates e os acompanhadores do exército também, reclamando  as mulheres o seu quinhão."
Na Guerra do Paraguai, elas tiveram papel fundamental para o conforto dos soldados. Mesmo passando por dramas diversos que causam a guerra, continuaram seguindo as tropas para as seguidas batalhas. 
"Eram prostitutas buscando obter lucros da situação, eram esposas e amantes que seguiam seus companheiros, eram mães que buscavam dar apoio a seus filhos. Elas cuidavam das roupas e da comida de seus companheiros; muitas vezes atendia-nos quando doentes; acudiam os feridos em combate; expunham-se ao fogo e, algumas vezes pegavam em armas. Muitas levavam seus filhos pequenos." (Ricardo Salles, 1990, p.125)
Em uma guerra desprovida de piedade e nem dó, as mulheres que seguiam as tropas, enfeitaram com sua coragem e "justificaram" as carências de sentimentos dos soldados. 
"A vida de vivandeira de carreira era curta e triste: das saias da mãe, ainda menina aos braços de um oficial. Não havia preconceito de idade: minenas de treze anos se entregavam a oficiais sexagenários, lipavam galões e bronzes do oficialato(...)" (Perridji, 2003. p.42)
Como guerreiras, amantes, comerciantes, mas acima de tudo, como mulheres, as Vivandeiras deixaram uma lacuna para ser pesquisado com mais profundidade na História das Mulheres. 
  
Bibliografia:
Conde D'Eu em "Viagem Militar ao Rio Grande do Sul"
Joseph e Maurício Pernidji em "Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai"
Ricardo Salles em "Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército"
Alfredo D'Escragnolle Taunay em "A retirada da Laguna"
    

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